domingo, 18 de junho de 2017

Mãos Sujas na Lava-Jato Sob a Égide da Transparência do Mal



"Os Inocentes de Mãos Sujas" de Claude Chabrol


A gente precisa tomar muito cuidado ao se referir a Joesley&Fachin@Janot&Organizações Globo e afins, como que tramando um "golpe" contra Michel Temer. Este discurso é bem próximo ao que faziam em relação ao impeachment de Dilma, sendo que alguns ainda o fazem. incluindo antes e agora:  artistas, intelectuais, militantes e simpatizantes.

( Vide Continuação em 'Mais Informações' )

sexta-feira, 16 de junho de 2017

“White God”(2014)- Agruras dos Cães no Mundo Homem


                                         "White God" ( 2014)  de Kornél Mundruczó

Assisti em 22/2/ 2016 à pré-estreia de "White God" (“Deus Branco”) do húngaro Kornél Mundruczó no Espaço Itaú de Cinema- Botafogo.
Tive sorte em poder assistir em uma tela muito boa e com som de alta qualidade. 

( O Texto continua em 'Mais Informações' )
                                            

sábado, 10 de junho de 2017

"Um Instante de Amor"(2016) de Nicole Garcia- A Gente Sabe o Lugar Certo Onde Colocar o Desejo?


"Um Instante de Amor" ( no original "Mal de Pierres")

http://variluxcinefrances.com/2017/filmes/um-instante-de-amor/ - Trailer e  Repercussão

SINOPSE
Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma o casamento dela com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas numa clínica e encontra a paixão que jamais teve pelo marido em um tenente à beira da morte (Louis Garrel).
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-221615/   ( Vide continuação em 'Mais Informações'  )

domingo, 4 de junho de 2017

O Cinema Enquanto Fotografia- A Mulher Que Se Foi" e "Do Que Vem Antes" de Lav Diaz






















Já havia feito uma imersão bastante gratificante em "Do Que Vem Antes"( 2014) de Lav Diaz, com praticamente 5 horas e meia de duração.

O dia a dia de camponeses nos é mostrado com toda paciência e detalhes, com fatos misteriosos acontecendo, como morte animais etc para que passemos a viver junto com estes  personagens, melhor observá-los e os compreendermos.
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Com a chegada de milícias, quando Ferdinan  Marcos anunciou o decreto nº 1081, em 1972, colocando todo o arquipélago filipino sob lei marcial e assumiu o poder, estas comunidades rurais se tornam inviáveis e as pessoas tem de abandoná-las, sendo uma loucura ficar.

Na Sala José Carlos Avellar do IMS-RJ, assisti praticamente a uma "aula", sem didatismos, de um período bastante significativo da História das Filipinas.

Nada de chatice. A longa duração se justifica plenamente pois Lav Diaz tem muito a nos oferecer, a dizer. Até espaço para espionagem no filme tem. 
 
Os planos rigorosamente enquadrados, belos e longos,  mostram,  de modo geral, ações internas no ritmo da vida como ela é, proporcionando ao espectador uma experiência única, que não temos nem com Theo Angelopoulos,  Tsai Ming-Liang ou Michelangelo Antonioni. Os procedimentos de Béla Tarr em “O Cavalo de Turim”, com sequências quase que congeladas e que aos poucos avançam, é bem diferente. Lav Diaz gosta de movimentos dentro de um quadro fixo.

Produzindo. escrevendo,  dirigindo, sendo ainda responsável pela fotografia e montagem, Lav Diaz tem total controle sobre suas obras, o que quer retratar e “entregar” aos espectadores.

Não é nenhum exagero o incluirmos entre os grandes autores/ cineastas, ainda em atividade neste novo milênio, que veio já para fazer parte da História do Cinema.  

Com o recente "A Mulher Que Se Foi" ( 2016) ( Leão de Ouro no Festival de Veneza- 2016), visto também no IMS-RJ, com quase 4 horas de duração, não é diferente.

O trabalho de evocação do quadro histórico visto como um pano de fundo, em 1997, onde havia uma epidemia de sequestros nas Filipinas,  estético ( como já descrito), com a  imersão  na vida dos personagens, se dá quando uma mulher ( Horacia) depois de ficar 30 anos presa, por um crime que não cometeu, é solta após uma amiga ter confessado ter sido ela quem o fez e acabar cometendo suicídio, por tanto arrependimento em esconder este fato. O que a levou à prisão foi outro acontecimento.

O crime se deu a mando de um ex-namorado de Horacia, um homem bastante rico, com outros crimes nas costas, que anda com vários seguranças e quer agora "'se aproximar de Deus", iniciando conversas com um padre e frequentando missas. Neste sentido nos lembra Michael Corleone ( Al Pacino) em “O Poderoso Chefão 3”.   

Horacia, fora do seu cotidiano se mostra como outras mulheres, mudando vestimenta e usando boné. Não quer que saibam que saiu da cadeia, quando acabou só reencontrando a filha, agora com 37 anos, com muitas emoções mútuas. Seu marido tinha morrido e seu filho encontra-se desaparecido. Talvez agora estivesse em Manila, vivendo como catador de lixo.

Esta mulher passa a viver sob dois impulsos: que se vingar, presa ao rancor que não passa (chegou a arrumar um revolver por favores prestados de amizade com um vendedor) e tentar recomeçar sua vida do zero, esquecendo o passado.

É no encontro com um travesti ferido, de quem passa a cuidar com todo carinho, que o filme e a vida dela ganham nova dimensão.

Enfim Lav Diaz tem bastante vontade de contar bem  esta história, este melodrama nobre, assim como faz em "Do Que Vem Antes".

Mais uma vez cuidando de tudo que é importante num filme, Lav Diaz confirma o grande cineasta que é.

Lav Diaz já apresentou no Festival de Berlim “Canção Para Um Doloroso Mistério”( 2016), com mais ou menos 8 horas, causando celeumas, com jornalistas abandonando a sala. Mas os organizadores tiveram o bom senso de fazer uma parada razoável para um almoço, possibilitando uma sessão com razoável número de espectadores. 

Pelo que já vi do diretor, já estou disposto a uma imersão quando espaços como IMS-RJ o trouxer para a Sala José Carlos Avellar. Muitas pessoas não compram box de minisséries e fazem maratonas de fim de semana?
Ao meu modo, sem os intervalos desejados, posso fazer algo análogo com um grande cineasta que merece.
  
Mesmo com filme bem longos, a filmografia sem concessões de   Lav Diaz é considerável e com uma boa curadoria está merecendo uma mostra no CCBB ou Caixa Cultural.

Quando estivermos num meio nostálgico de um tempo de grandes cineastas, lembremos do presente, onde temos  a grandeza do cinema de Lav Diaz, ainda em ação.

Ele é um autêntico cineasta humanista no que esta palavra tem de melhor, algo raro no Cinema de hoje e que soa a muitos ouvidos como algo estranho, a se desconfiar, causando ojeriza, mesmo até por parte de certa crítica supostamente esclarecida. Deveriam conhecer melhor a História do Cinema, quando humanista não era de modo algum palavrão.

Sinal dos tempos.


Nelson- 5/6

Ps A Sala José Carlos Avellar vai ficar fechada até 9/6 para troca de projetor. Pelo grande prestígio e o fato de ter passado batido por uma semana no Espaço Itaú de Cinema, "A Mulher Que Se Foi" pode continuar ali sua carreira na cidade, pois em maio foram poucas as sessões.    

sábado, 3 de junho de 2017

Para Não Haver Perda de Aura


1- “A Promessa” de Terry George

(Sinopse e Trailer)

Michael (Oscar Isaac) é um jovem armênio que sonha em estudar medicina, mas não tem dinheiro para arcar com os estudos. Por isso, ele promete se casar com uma garota de seu vilarejo, na intenção de receber o dote. Com o dinheiro em mãos, Michael viaja à Turquia e faz seus estudos durante os meses finais do Império Otomano. Neste contexto, conhece a armênia Ana (Charlotte Le Bon) e se apaixona, embora a professora namore o fotógrafo americano Chris (Christian Bale), enviado à Turquia para registrar o genocídio dos turcos contra a minoria armênia. Um triângulo amoroso se instaura em meio à guerra.


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Terry George em “Hotel Ruanda” ( https://pt.wikipedia.org/wiki/Hotel_Ruanda) já tinha nos mostrado aspectos e decorrências do grande genocídio em Ruanda, onde mais de um milhão de pessoas foram mortas, no massacre que a maioria hutus promoveu contra a minoria tutsis.

O holocausto dos armênios perpetrado pelos turcos, algo que os governos da Turquia sempre negaram ( como se fossem coisas naturais de guerras)  já foi filmado diretamente em  “La masseria delle allodole (2007)” de Paolo e Vittorio Taviani,  indiretamente em “Uma História de Loucura” de Robert Guédiguian e  “Ararat” de Atom Egoyan. Mas quando um milionário armênio resolveu dar milhões para retratar com o máximo de realismo estas barbáries (  o primeiro holocausto do século XX ), Terry George foi convidado para a direção e o resultado é surpreendente.

Temos um triângulo amoroso em evolução, mas é o massacre   que toma mais vulto na história de figurino clássico, um autêntico épico, uma superprodução que com estes temas não se faz mais hoje. E isto não é gratuito. Os Taviani  fizeram um filme bastante autoral em que ( como em vários de suas obras )  há momentos de crua poesia. Por exemplo: para não ter o filho morto, que carrega nas costas, pelos turcos, sabendo que isto é inevitável, uma mãe e outra mulher se aproximam (de costas) e sufocam a criança pequena. Não é explicitado. Mas o horror que sentimos é muito grande.

Já em “A Promessa” os massacres são bem explicitados como eles foram, em vários momentos, para se ter a real dimensão de todo o ocorrido.
De Christian Bale já sabemos o grande ator que é, se entregando totalmente aos seus personagens. Fiquemos num exemplo: em “O Sobrevivente” de Werner Herzog, além das grandes angústias enquanto preso em um cativeiro numa selva asiática, dá grande autenticidade enquanto fugitivo bastante faminto que, desesperado, chega a pegar uma cobra, abrindo-a para comer.

Em “A Promessa”, a grande surpresa é o excelente trabalho de Oscar Isaac, como um dos vértices do triângulo amoroso, mas ao mesmo tempo vai ser a ponte entre os que observam os massacres e aqueles que realmente os sofrem, que pagam pelo que nunca cometeram, com muitas dores, ferimentos e a imensa maioria, com a  própria vida.  
Assim, esta história amorosa é algo que ainda que considerem um clichê, tem elementos apresentados com elegância e de sobra para alavancar as narrativas paralelas que se encontram, promovendo uma evolução do filme que é bastante imprevisível, que é o que realmente importa.

“A Promessa” é um épico de muito boa qualidade, de uma abordagem, ritmo, intimismo, de forma que praticamente não se faz mais, guardadas as devidas proporções, como os grandes épicos de David Lean, de “Lawrence da Arábia”, “Dr. Jivago”, “Passagem Para a Índia” etc. Mas para ser fruído como merece e merecemos, deve ser visto na Tela Grande.

2- Aviso aos Navegantes

Estou cada vez mais pessimista com relação ao futuro do Cinema na Tela Grande, que é onde ele realmente se apresenta em toda a sua magia, para onde foi realizado, pelos cineastas que amam o Cinema.

Fellini dizia, com toda razão, que assistir um filme com várias pessoas diante da Tela Grande, é como participar de uma missa leiga. Temo que fora o Cinema Vídeo-Game para grandes telas, só restará para os alternativos empenhados artisticamente, algo bem seleto, elitista, em bem poucos e determinados espaços, como é para a Ópera hoje em dia. E assim como esta surge aqui e ali na Tela Grande, estes filmes especiais ganharão espaço dos outros bem comerciais, em determinadas temporadas curtas, em horários únicos.

Hoje temos os crescentes serviços de streaming  ( como a Netflix, Spotify  etc; há quem já elenque por volta de 17 possibilidades no Brasil), os filmes que podem ser baixados; os filmes que camelôs vendem; os da HBO, Telecine, Canal Brasil, TV Aberta ou outros canais da TV fechada, havendo até quem em um delírio de tecnologia, acredite que possa assistir um filme num tablet, sem grande perda de aura e impacto.

Walter Benjamin, filósofo bastante prestigiado e estudado da célebre Escola de Frankfurt, nos dias de hoje teria muito a acrescentar ao seu famoso e grande ensaio: “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”.

Dado todas as inúmeras mudanças (uma autêntica revolução) que tivemos ao se passar da era analógica para a digital, o filósofo teria muito trabalho para compreender este novo mundo e reformular muitas de suas reflexões. Mas com certeza a questão da perda de aura ainda estaria bastante atual.  

Assim, como não sou crítico de cinema profissional, que tem que estar preparado para tudo, dentro de sua área de atuação, eu só tendo a comentar aqui, os filmes que considere minimamente bom ou em patamares superiores como muito bom ou ainda obras-primas. No máximo regular não me interessa, nem gosto de comentar.

Não quero que nem um leitor do que eu escreva seja influenciado a não assistir na Tela Grande qualquer filme. As exceções seriam os filmes que, ao meu ver, considere fascistas como “Menina Má.Com” de  David Slade, “Valente” de Neil Jordan etc. Estes detonarei com prazer. Que os espectadores os vejam por sua conta e risco.

Posso, diante de um filme tão comentado, badalado, com excelentes críticas de modo geral, como foi  “Mad Max: Estrada da Fúria” ( 2015 ) de George Miller, não resistir e passar minha visão, que neste caso é negativa. Vindo de um solilóquio de “Macbeth” de Wiliam Shakespeare, já num grande processo de perda da razão, este filme de Miller ( que chegou a fazer parte até da lista dos 10 melhores do ano  da Cahiers du Cinéma e da dos 10 mais da ACCRJ, Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro ) é uma história contada por um diretor em momento idiota, cheia de som e fúria, significando nada.

Indicado para vários Oscars, o filme de Miller só ganhou prêmios técnicos. Mas não ganhou nem o de melhores efeitos visuais. Este ficou com “Ex- Machina- Instinto Artificial” ( 2015) , que foi lançado no Brasil direto em DVD.

Claro que deve haver muitos filmes bastante fascistas dos quais nem passo perto. E também, não sendo profissional, posso me dar ao luxo de não assistir, prevendo que não vá   gostar, só pelo trailer e informações variadas, como  a franquia que não acaba nunca de “Velozes e Furiosos”, com tantas correrias e explosões, que sei que atrai até empenhados amantes do Cinema. Mas acredito que esta seja uma questão geracional. As pessoas jovens passam cada vez mais a gostar e acompanhar bem jogos vorazes de velocidades no Cinema. 
    
Infelizmente muitas vezes, como deve estar acontecendo agora, mais de 90% das salas do país são ocupadas por filmes correlatos à franquia “Velozes e Furiosos”, mesmo que com visuais mais atraentes, sofisticados, como em “Rei Arthur-A Lenda da Espada” de Guy Ritchie. Até mesmo o recente “A Bela e a Fera”, um bom filme, não tem quase tempos para respiro.

Faz parte também desta ocupação, a enxurrada de comédias ligeiras, de humor óbvio que já é constatado pelos trailers. Sãos casos que não pago para ver, a não ser por recomendações de quem dou crédito, sejam amigos ou jornalistas.   

Só o resto das salas, quase que com condescendência, é  reservado  para os filmes brasileiros e estrangeiros artisticamente empenhados, mesmo que acabem falhando ou com fissuras em suas intenções que surjam quando os conferirmos.

Nenhum filme assim é necessariamente minimamente bom. Nem sempre o diretor é o melhor critico de sua obra. Mas vale a pena correr riscos, pois se forem ruins, cada um é assim à sua maneira. Não reina a mesmice. 

Não sou avesso a todo blockbuster chamado filme pipoca. Gosto muito de vários deles: o profético “Matrix” (só o primeiro) dos então Irmãos Washovsky  ( antes de mudança de sexo); o mais do que profético “V de Vingança” de James McTeigue ( produção dos Washovsky ) ; “Sin City-A Cidade do Pecado” de Robert Rodriguez; “A Origem” de Cristopher Nolan;  os dois “Batman” de Tim Burton;  “Superman” de  Richard Donen e tantos outros.

Mas mesmo assim não gosto nada do fato, quando ocupam mais de 90 % das salas do país, uma situação que a classe cinematográfica brasileira, tão desarticulada e desunida, não consegue discutir seriamente com representantes selecionados, para propor algo bem objetivo, eficiente   e prático na execução. Sugiro estudar políticas  públicas quanto ao Cinema na França e até mesmo na Coreia do Sul.

Os manifestos e manifestações que surgiram diante de um suposto golpe jurídico midiático ou parlamentar que não houve pois seguiu-se só ditames da constituição, são uma mera cortina de fumaça para uma união, coesão, força política, que não existe.

Existe filmes bem híbridos, que não são de alto orçamento, que tanto tem um lado comercial forte, mas com grandes apelos artísticos também, como tivemos neste 2017 com “Fragmentado” de M. Night Shyamalan e em agora em cartaz com o surpreendente “Corra!”( 2016) de Jordan Peele , do  qual é melhor saber muito pouco dele, para ser melhor surpreendido com as viradas de roteiro. 

Mas me arrisco a escrever que ( Atenção Leitores: Spoilers)  é um mix de “Adivinhe Quem Vem Para Jantar” de Stanley Kramer, dos filmes paranoicos de Roman Polanski , de momentos de humor ( negro também)  e do toque especial sanguinolento gráfico e paródico de Quentin Tarantino, especialmente este que lida também com o tema do racismo, que é o sensacional “Django Livre”, com excelente roteiro, que deu a Tarantino seu segundo Oscar na categoria original. 


Nelson Rodrigues de Souza