quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Sobre Criações e Predadores do Coração das Trevas / “mãe!” de Darren Aronofsky -Viagem à Monstruosidade Cotidiana




1- “mãe!” de Darren Aronofsky -Viagem à Monstruosidade Cotidiana
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Um casal vive em um imenso casarão no campo. Enquanto a jovem esposa (Jennifer Lawrence) passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido mais velho (Javier Bardem) tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de uma série de visitantes que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções. *
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“mãe!” ( 2017)  de Darren Aronofsky é um das daqueles filmes de pegar ou largar. Eu estou entre os que pegam.

O filme divide opiniões por onde passa, muitas extremadas, tanto de críticos como do público. Se bem que por volta de 67% das críticas já  analisadas pelo site Rotten Tomatoes**   mostram-se favoráveis, o que revela que o coro de vaias no Festival de Veneza não foi significativo. 
Via site Adoro Cinema *** temos críticas da imprensa nacional e internacional, com predominância de miradas bem positivas.

 Já a bilheteria no primeiro fim de semana nos EUA deixou bastante a desejar. Vejamos o que acontecerá no Brasil em sua carreira.

(Texto Continua em Mais Informações, Embaixo à Esquerda)   



terça-feira, 12 de setembro de 2017

O Importante é Que A Nossa Emoção Sobreviva/ Nós Que Amávamos Tanto a Revolução


1- O  Importante é Que A Nossa Emoção Sobreviva

 “Ultimos Dias em Havana” (2016) de Fernando Pérez tem personagens bastante pujantes e pungentes. Mas tendo que destacar um apenas é sem dúvida Diego, num trabalho arrebatador de Jorge Martinez

Diego está em estágio avançado em direção à morte, sem volta, atingido pela Aids. Mas embora aqui e ali exale amargura, sempre procura ver o lado bom da vida que ainda lhe resta, reagindo com bastante bom humor e tentando insuflar vida ao amigo que dele cuida Miguel (Patricio Wood, em excelente composição), que mantém um ar sempre amuado, rosto crispado, esperando uma carta para dar ínicio a um processo de emigração para os EUA. 

Miguel tem um passado bastante misterioso. Não aparenta se gay como Diego, Passou por perseguições políticas? Chegou a ser preso? Nestas condições foi torturado? Ou é a consciência de como os ideais da Revoluçao foram reduzidos a pó? Ou não suporta mais a pobreza? Ou um pouco de tudo e/ou outras coisas mais? 

Miguel trabalha na cozinha de um restaurante e está sendo sempre advertido pelas desatenções. E isto não é apenas um dado periférico à narrativa como se verá mais tarde.  

Outros personagens bastante interessantes se agregam a este conflito básico que é a vida paralisada de Miguel vis a vis a vida frágil de Diego, que procura transcender esta sua circunstância, mesmo com a morte como algo bem próximo. 





A sobrinha de Diego, Yusisleydis (Gabriela Ramos, excelente), está grávida, não quer saber de estudos, foge da mãe e tem planos de viver com o namorado, e a despeito de um contrariado, amuado Miguel, acaba conseguindo um espaço na casa. 

Um dos grandes achados do filme é tornar Yusisleydis um personagem cada vez  mais forte, acabando por ser a consciência crítica de tudo que acontece. 

Diego antes de morrer, no seu aniversário não quer simplesmente o trivial e burocrático bolo que a tia lhe traz. Seu grande presente seria poder ver um homem nu, principalmente de forma frontal. Relutante de iníco, Miguel acaba por   frequentar o “bas fond” de Havana, onde encontra o michê negro P4 (Cristian Jesús Pérez, bastante carismático). P4 passa a ser um personagem com importância que não se suspeitava. 

Mas há um personagem bastante evidente e poderoso no filme que é a cidade Havana. A arquitetura e cores borradas das casas lado a lado da de Miguel/Diego são horrendas. Um autêntico cortiço. 
As ruas não são mais animadoras. Miguel pega um taxi durante uma forte chuva. Neste há mais três passageiros. Quando Miguel quer descer, um passageiro deve sair de seu lugar, mas há portas emperradas, o motorista tem de descer e vemos um plano geral deste carro, constatando seu estado lamentável. 

Aliás o trânsito e a arquitetura das casas já nos tinha sido mostrados  em toda sua decadência. Imaginemos a Lapa bem antes de sua revitalização (que tem idas e voltas). Este é o clima que a cidade nos passa. Pelo menos o que nos e motrado numa zona pobre. 

Mas o que resta forte mesmo é a grande solidariedade entre as pessoas, mesmo que o filme não escamoteie que, por exemplo, uma relação amorosa promissora possa terminar com um grande “barraco” aos olhos e ouvidos de todos. 

“Últimos Dias em Havana” e “Uma Mulher Fantástica” (2017) de Sebastián Lelio, em cartaz, tem fortes pontos em comum. Enquanto neste a transexual. Marina (Daniela Veja, excepcional) luta pelo direito de vivenciar o luto,   participar do velório e enterro do companheiro Orlando que morreu, sendo impedida ostensivamente pela família deste (até com atos de violência), ela apresenta um senso de dignidade irredutível, fantástico mesmo, assim como é a de Diego diante da vida/morte que o ronda e também num outro nível a determinação de Miguel de ir embora. 

Claro que este senso de dignidade perpassa outros personagens, de uma forma ou de outra, mas em “Últimos Dias em Havana” e “Uma Mulher Fantástica” é bastante superlativo e evidente, com seus protagonistas,

Comparece também em “Uma Mulher Fantástica” a força da solidariedade, mesmo que em grupo reduzido, para mitigar angústias. Simplesmente mostrar uma sucessão de desprezos tornaria os filmes maniqueísta. 

Para reforçar a universalidade da temática de “Uma Mulher Fantástica” nos vem à mente a peça “Tom na Fazenda” de Michel Marc Bouchard, espetáculo em cartaz no Rio de Janeiro até dia 30, com muito sucesso, tendo sido indicado a 5 prêmios Shell. O texto foi transformado no belo filme homônimo (2013) de Xavier Dolan, jovem cineasta de tantos filmes memoráveis,premiados no Festival de Cannes, principalmente. 

Ainda que bem diversas em suas evoluções dramáticas, em “Tom na Fazenda” há a questão de se impedir alguém de viver o luto pela perda de um companheiro como quer e tem direito. Tom vai à fazenda da família do parceiro e é impedido com torturas psicológicas e até físicas pelo irmão do falecido, para que passe por um amigo e não como parceiro, a fim de que a mãe não saiba de forma alguma que o filho era homossexual. 
  
Em “Retorno à Ítaca” (2014) de Laurent Cantet (Palma de Ouro em Cannes em 2008 por “Entre os Muros da Escola”), temos um roteiro do próprio diretor junto ao escritor Leonardo Padura. Este chegou a um público mundial, com  enorme  prestígio de crítica com “O Homem Que Amava os Cachorros” (2009), onde uma história policial acaba envolvendo o assassinato de Trótski em agosto de 1940, a mando de Stálin, no seu exílio no México, pelo pau-mandado Ramón Mercader, comunista espanhol, que se valeu de uma picareta de alpinista. Assassino este que terminou seus dias em Havana. 

Estes fatos bastante comprometedores e até mesmo a existência de Trótski estavam proscritos dos livros e aulas de História em Cuba,  para que a “grande”, ”redentora e “exemplar” Revolução Russa de 1917 não tivesse sua imagem maculada e pudesse servir de exemplo,  integralmente, durante anos de lavagem cerebral, onde Fidel Castro chegava a fazer discursos, muitas vezes, de mais de 7 horas ( sic). 


Não por acaso, com seis livros publicados, bastante sucesso internacional, de  crítica e leitores, com já comentado, Padura é  praticamente invisível em Cuba hoje. E estamos em setembro de 2017 ! 
(Sua missão particular às vezes esbarra em planos coletivos. Em seus livros, artigos e entrevistas, Padura não omite as contradições do regime de Raúl Castro; em troca, o governo faz o que pode para atrapalhá-lo — o que, no caso de Cuba, é bastante. As editoras (todas estatais) evitam reimprimir suas obras; as universidades (todas públicas) o ignoram; a imprensa (100% oficial) não o procura.

— Em Cuba, sou invisível — resume.)


Em “Retorno à Ítaca”, amigos cinquentões/ sessentões se reúnem num terraço para uma pequena festa para dar boas vindas a um deles que voltou da Europa, depois de anos no exílio. Cada um vai mostrar o seu grande desecanto com a revolução cubana e seus ideiais traídos, desencaminhados. 

Assim temos a volta do filho pródigo (que revela um terrível segredo); o único que enriquece há anos contrabandeia produtos com estrangeiros que fazem turismo à parte, em áreas reservadas com seus dólares, o que enfatiza a grande hipocrisia dos governantes com mão de ferro; a mãe que ainda quer acreditar nas conquistas feitas, mas tem um filho que fugiu para Miami; o artista plástico que era bastante transgressivo, politizado, crítico ao regime, mas por perseguição política passa a viver de obras bem convencionais, acomodadas, sem força artística; o negro que foi lutar por ideal em Angola e decepcionou-se bastante ao ver colegas voltando com bens colhidos de forma ilícita e ainda tem um filho que escancara seu horror a Cuba  e a vontade de sair do país. 

Num clima teatral muito bem desenvolvido cinematograficamente, temos os personagens numa reunião num terraço. Mas o que se vê ao redor, em termos de moradias é melancólico pela sua degradação. 

“O Assassinato de Trotski” (1972 de Joseph Losey, filme ainda que tenha abordagem bastante distinta do romance, é um bom começo para se conectar com esta época em que o revolucionário proscrito ( Richard Burton) é assassinato por Ramón Mercador ( Alain Delon).    

Em “Numa Escola em Havana” (2015) de Ernesto Daranas temos uma situação mais dramática e cruel, onde solidariedade mesmo só existe entre uma professora negra, já um tanto idosa e jovem aluno problema, que diretora e professores desta escola decadente querem que seja enviado para algum instituo de correção. 

Inconformada a professora vai conhecer a vida do aluno (como todas em toda parte do mundo deveriam fazer.), descobrindo que ele cria cachorros para vender para sórdidas rinhas. Faz isto para sustentar a si e à mãe viciada em drogas.

Lembrando o quanto a religião de seus ancestrais tem sido maltratada (a santeria cubana, equivalente ao nosso candomblé, é praticad  clandestinamente), a professora defende com toda força a vontade de uma aluna de colocar num quadro na sala de aula, uma imagem que remete ao cristianimo. Isto vai selar seu destino. 

Por ocasião da morte de Fildel Castro, Renato Janine Ribeiro (professor aposentado de ética da Unicamp e ex-Ministro da Educação do governo Dilma ( ela simplesmente o descartou em meio a projetos, depois de 6 meses, para agradar setores do PMDB que a apoiassem) disse algo deste teor: “ Sim, Fidel matou e prendeu muita gente. Mas com o bloqueio comercial, se não fizesse isto, Cuba teria se transformado num Haiti (sic)”. Preciso comentar alguma coisa?  

Ps1 O título “O Imporante é Que a Nossa Emoção Sobreviva” vem de um clássico da MPB, dos anos de chumbo, gravado por Márcia, Paulo César Pinheiro e Eduardo Gudin.  

2-  Nós Que Amávamos Tanto a Revolução

 (O texto contém spoilers de alguns filmes)  

Não há diálogos, nem narração. Só música e uma combinação musical de imagens belíssimas, enquadramentos como que perfeitos numa montagem excelente, formando um filme de altas ressonâncias poéticas. Uma autêntica suíte mesmo. Não é a obra-prima de Godfrey Reggio que é "Koyaanisqatsi" (1982.) ´Trata-se de   "Suíte Havana" (2003) de Fernando Perez, diretor do já comentado “Últimos Dias em Havana”. 

“Suite Havana” é um filme muito bom, mas não é a obra-prima que que poderia ser. Por quê? Porque se a proposta de se construir uma suíte cinematográfica que se apoiasse em fragmentos do cotidiano de dez pessoas na Cuba contemporânea, não precisasse de "certas explicações" que vem ao final para entendermos melhor a vida destes habitantes da ilha, a estrutura poética e musical de imagens pretendida teria sido plenamente alcançada.

O final do filme é quase que uma confissão de suas limitações. Esta poderia ter sido dispensada, pois há na obra uma crueza com o poder inegável da captação da beleza daqueles rostos; daquelas paredes descascadas; daqueles olhares tristonhos; da melancolia que não ousa dizer sua dimensão; das pequenas epifanias das dez "estranhas formas de vidas" de uma Cuba que (ainda mais que o nosso mundo como um todo), vive uma forte ressaca pós-utópica, pois se apostou bastante ali, numa revolução socialista que fracassou. 

No desenrolar do filme, que se recusa a ser narrativo, de forma sutil, as informações, que no fim aparecem em bruto, poderiam até ter sido infiltradas de forma bem sutil. Não foram. Mas a experiência emocional resultante ainda merece bastante ser vivenciada.

"Buena Vista Social Club"(1999) é um doc célebre de Wim Wenders, de bastante sucesso, que acompanha o reencontro de velhos músicos cubanos que estavam no ostracismo, deste desprestígio, até uma consagração num show no cultuado Carnegie Hall de  Nova York. 

É um filme intencionalmente “pra cima”, com pessoas bastante idosas que sonham e muito (ao contrário de uma senhora vendedora de amendoins de “Suíte Havana” que já não sonha mais), mas já traz de uma forma indireta uma sutil (mesma que possa não ter sido intenção de Wenders) crítica às conseqüências do regime implantado por Fidel e fiéis seguidores, a ferro e fogo:  a decadência dos prédios, casas e construções de Cuba, desnudada pelas câmeras do cineasta é gritante. 

“Mamãe eu quero ir a Cuba e quero voltar” - diz um verso de uma das canções de Caetano Veloso. Nesta aparente inocência, há um elemento corrosivo. Sim, a revolução cubana foi um grande sonho para a América Latina, mas “nós que sonhávamos tanto com o sucesso da revolução cubana e de outras utopias” fomos atropelados definitivamente pelo realismo de John Lennon: o sonho acabou!

 Assim nos resta ir a Cuba, conhecer suas gentes, suas cores, seus humores, o mar batendo nas muralhas do Malecón, as suas belas praias, nossas afinidades culturais, a santeria  que é uma prática religiosa afro-cubana que tem similaridades com o nosso candomblé ( que é praticada de forma clandestina, lembremos) etc...Enfim, ir .....mas  voltar...

“Guantanamera” (1995) último filme do veterano Tomás Gutiérrez Alea (em parceria com Juan Carlos Tabio) já nos mostrava uma sociedade em derrisão, em que até uma senhora morta “penava” pela burocracia para ser transportada em seu caixão, o que deveria ser o mínimo de homenagem à vida que teve. 

Em “A Morte de Um Burocrata”(1966) do mesmo Tomás, este tema da dificuldade de se realizar um simples enterro ( onde a carteira de trabalho  que vai junto do burocrata em seus caixão, numa homenagem oficial, cria dificuldades para a viúva receber sua pensão) tem  também forte poder de sátira. 
O tom de humor negro destes filmes desaparece totalmente em “Antes do Anoitecer” (2001) de Julian Schnabel ( de “Basquiat”, “O Escafrando e a Borboleta” etc), uma angustiante saga real do escritor cubano homossexual Reinaldo Arenas (vivido magnificamente por Javier Barden, candidato ao Oscar de Melhor Ator por este papel), para escrever seus romances, divulgá-los mundo afora, fugir das prisões, evadir-se de Cuba até atingir Miami e Nova York. 

Insatisfeito com estas duas grandes cidades, é em Nova York que contrai o vírus da AIDS, enquanto leva uma vida desencantada de porteiro de edifício, morrendo num gesto rápido e generoso de eutanásia proporcionado por um amigo, algo que nos choca e muito, ao contrário de “Mar Adentro” (2005.) de Alejandro Almenábar, com o mesmo Javier, em que o tema é abordado de forma progressiva, poética, humana e bastante reflexiva.

“Antes do Anoitecer” ainda doura a pílula quando confrontado com o livro autobiográfico “Antes que Anoiteça” de Reinaldo Arenas e seus inúmeros detalhes, aqueles onde o diabo mora. 

Reinaldo, em Cuba, tinha de escrever suas obras, escondido em jardins públicos antes que anoitecesse e antes que sua vida “anoitecesse” de vez, queria angustiadamente terminar sua inacreditável autobiografia, onde nos conta o quanto suas desilusões com Cuba e as dificuldades abissais de fugir do páis o levaram a um homoerotismo desenfreado, com muitos homens, como sublimação. Uma forma de instilar bastante vitalidade, aonde ela lhe era negada.    

Neste trabalho derradeiro de Arenas, até mesmo a imagem de Gabriel Garcia Márquez, grande amigo de Fidel, por suas abomináveis omissões, sai bastante chamuscada, o que levou o crítico literário José Castelo a escrever no jornal O Estado de São Paulo, que não deixaria de gostar do trabalho literário do grande escritor prêmio Nobel, mas enquanto pessoa nunca mais conseguiria encará-lo como antes. 

“Morango e Chocolate” (1994) de Tomás Gutiérrez Alea (co-dirigido por Juan Carlos Tabio) é um precioso jogo de aprendizados mútuos entre um jovem empolgado com os ideais revolucionários e um homossexual perseguido, afetado e bastante culto, um personagem vivido com grande carisma por Jorge Perugorria, num dos seus melhores trabalho no cinema, aquele que  impulsionou sua carreira. Atualmente trabalhou como o detetive Mário Conde na série “ Quatro Estações de Havana” roteirizada por Leonardo Padura e sua mulher, distrubuída pela Netflix. 

“Morango e Chocolate” é um filme cativante e emocionante, do começo ao fim.  Mas quando comparado com a barra pesada de “Antes do Anoitecer” (ainda que este tenha suas fortes insuficiências como o emprego de inglês e espanhol na narrativa sem muita habilidade), é um conto de fadas, remetendo mesmo ao nome da novela que o inspirou que é “O Bosque, o Lobo e o Homem Novo” de Senal Paz. 

Mas por um destes paradoxos da criação artística, ainda assim, a obra de Tomás/Juan em seu conjunto resulta enquanto cinema, muito mais atraente, tocante e bem resolvida do que o trabalho de Schnabel.  O deste chega a ser um tanto frio demais.   

“Suíte Havana” é mais uma pedra lançada na construção da catedral de perplexidades e ilusões perdidas que os descaminhos da revolução cubana desencadearam. 

Mas para quem se sentir nostálgico do estilo de governo de Fulgêncio Batista e antecedentes, que Fidel, Che Guevara e companheiros desestabilizaram e implodiram, uma simples visita aos clássicos  “Soy Cuba” ( 1964) de Mikhail Kalatozov ou a celebração da liberdade de “A Última Ceia” ( 1976) do notável e já citado Tomás Gutiérrez Alea ( onde senhores de escravos mostram o poder que tem de forma bem cínica, chamando escravos para um ceia,  mas provoca uma grande revolta, pois estes sentem um gostinho de liberdade), enfim só estes filmes  o fará ficar bastante perplexo. 

“A Última Ceia” pode ser tido  tanto como uma alegoria sobre o autoritarimo do governo ditatorial de Fulgêncio Batista, como também do mais do mesmo com  Fidel, em ideologia de sinais trocados.
  
Uma visão atenta de “Diários de Motocicleta” (2004) de Walter Salles também nos é muito útil para estarrecer estados anestésicos: a América Latina que o jovem Che se esforça por conhecer nos anos 50 ainda mostra, a rigor, a mesma cara de tantas misérias e pobrezas no novo milênio, quando o filme é feito, percorrendo-se a mesma trajetória de anos atrás.  Condições sociais abjetas, grandes concentrações de renda, que sucessivos governos ditatoriais, populistas, e corruptos estiveram longe de resolver e nem tampouco mitigar. 

Em “Che” (2009) de Steven Soderberg, uma senhora se aproxima de Che, médico argentino, na Sierra Maestra, onde este atendia as pessoas. Ela declara não estar ali por um problema de saúde, mas sim porque nunca tinha visto um médico na vida.
  
Em “O Poderoso Chefão 2” (1974) de Francis Ford Coppola, Michael Corleone como empresário “honestíssimo”, trata de negócios com Fulgêncio Batista, mas com os revolucionários chegando a  Havana, trata logo de fugir da ilha. 

Escritores homossexuais como Reinaldo Arenas e Gabriel Cabrera Infante apoiaram a revolução. Mas quando perceberam que se intalava uma nova grande ditadura, agora de “esquerda”, Gabriel conseguiu fugir para a Europa. Mas Reinaldo não. Assim este sofre as grandes provações já comentadas.  

Um filme incontornável para o bem ou mal para se entender ideiais da Cuba pós-revolucionária é o clássico “Memórias do Subdesenvolvimento” (1968) de Tomás Gutiérrez Alea, onde acompanhamos memórias e contradições de um burguês que fica sozinho em Cuba, enquanto família e amigos vão para Miami. Ele corre o risco de ficar num limbo, num não lugar, sem fuga nem adesão. 

PS1. O título que dei ao texto tomei emprestado de Fernando Gabeira numa obra onde conversa com Daniel Cohn-Bendit, lançado pela Rocco em 1985, que já é uma variação de uma das obras-primas de Ettore Scola que é “Nós Que Nos Amávamos Tanto”. Mas ele é essencial para sintetizar o sentimento geral do texto. Aos dois então, desculpas pelo plágio....

PS2- Alguns filmes, principalmente “Retorno a Ítaca”, nos remetem ao espírito dos dois capítulos. 

PS3- O texto desta parte, aqui revisto, foi originariamente publicado no Jornal Eletrônico Montblaat dirigido pelo saudoso jornalista Fritz Utzeri. 

3- Links associados

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-239390/- “Últimos Dias em Havana”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-245149/- “Uma Mulher Fantástica” – Sinopse e Trailer  

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-208989/- “Tom na Fazenda”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-221566/- “Retorno a Ítaca”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2440/- “O Assassinato de Trótski”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-230941/ - “Numa Escola em Havana”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-33233/- “Koyaanisqatsi” – Sinopse e Trailer  

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54120/  - “Suite Havana” – Sinopse 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-8270/ - “Buena Vista Social Clube” – Sinopse e Trailer


 - Inácio Araujo – “A Morte de Um Burocrata”

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-28622/- “Antes do Anoitecer”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-53097/ - “Mar Adentro”- Sinopse e Trailer  

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-79843/- “Morango e Chocolate” – Sinopse 




http://www.adorocinema.com/filmes/filme-33464/- “Diários de Motocicleta”- Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-53619/- “Che” – Sinopse e Trailer 

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-28201/ - “O Poderoso Chefão 2” – Sinopse e Trailer 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorias_del_subdesarrollo - Sobre “Memórias do Subdesenvolvimento”